Melancolia é um dos meus filmes favoritos! Lars Von Trier, pai do título, faz aniversário amanhã. Ele tá guardado no meu coração e curiosamente, nasci no mesmo dia que ele. Um privilégio, né?! 😏
Dá um ▶ e escuta enquanto lê! 😉
Ainda me lembro da primeira vez que assisti “Melancolia” e foi uma mistura de sentimentos, de estranheza, de angústia, alívio e muitas reflexões nos dias seguintes. Antes disso, havia assistido “Dançando no Escuro” que foi uma sensação igualmente peculiar. O cinema de Lars Von Trier tem disso, de nos deixar desconfortáveis e curiosos ao mesmo tempo, algo que considero único.
Contribui para esta experiência, a trilha sonora que deveria ser reconhecida como uma música romântica (Tristan and Isolde – Richard Wagner), mas que torna-se extremamente deprimente da forma como Lars a situa no longa. É simplesmente emocionante!
Como Lars von Trier queria e como ficou no final
A fotografia jamais poderia ficar de fora nas obras de Lars Von Trier e, especialmente aqui, que é um de seus filmes mais íntimos. Kirsten Dunst representa de forma singular uma mulher deprimida e a câmera a persegue em um estilo predominantemente documental. Ela percorre o set nos ombros de Manuel Alberto Claro assim como parte do elenco.
Claro se descreve como alguém sempre atento aos locais reais. Ele tenta criar o melhor espaço possível para os atores e, claro, ser visualmente expressivo dentro disso. O que resulta às vezes é tecnicamente ruim, mas emocionalmente bons momentos. Ele gosta do processo de filmar, de chegar a algum lugar. Ele diz que se adapta facilmente, que nem sempre planeja suas cenas, tornando seu processo bastante orgânico. Segundo ele, este foi definitivamente o caso com Melancolia. A ideia de Lars Von Trier era que a câmera reagisse aos atores como se não tivesse ideia do que iria acontecer. Então a reação é sempre um pouco tarde, um pouco incomum. E assim, às vezes perdemos as falas, não entendemos todo o diálogo. E Lars gosta disso. Dessa forma, ele não acha que precisamos ver tudo, ouvir cada linha sendo dita, e isso é um pouco diferente da maioria dos diretores.
Os momentos Wagner
Em Melancolia, por um ponto de vista temos uma atmosfera instável de documentário. Por outro lado, existem também enquadramentos muito distantes, tomadas áreas, separadas e impessoais — incluindo as cenas que mostram os planetas colidindo.
De acordo com o Diretor de Fotografia (DP), este é um momento curioso de Lars onde ele mistura o estilo mais formal de seu trabalho dos anos 1980 com as técnicas do Dogma 95. Assim ele consegue aproveitar o melhor de ambos. Aliás, você se lembra quem é o parceiro de Lars na criação do Dogma? Thomas Vinterberg que protagonizou a série de artigos “A Marca do Diretor” neste mês de Oscar!
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O DP acrescenta que em “Melancolia” a câmera é muito próxima e assertiva para o momento psicológico, quando as coisas estão acontecendo entre as pessoas. Mas, há muitos desses momentos mais elevados onde estamos assistindo um planeta ou uma paisagem. Quando estavam filmando, Lars chamou estes de “momentos Wagner” — que acabariam tendo a peça sob eles. Então, temos o estilo documentário e, logo depois, é mais elevado e grandioso. Para Manuel, o que o torna um grande filme é justamente o fato de existir esta dualidade entre as cenas mais íntimas — com a sensação de estar bem no meio das coisas — e, em seguida, as mais contemplativas. Aliás, ele relata que toda a equipe ouviu muito Wagner no set (e antes de filmar também). De acordo com ele, funcionou de forma bem diferente para cada um. Alguns sentiram-se muito emocionados, enquanto outros acharam sua dimensão épica e trágica, irritante.
Cores e Iluminação
Melancolia tem em sua primeira parte um amarelo intenso, com nuances de marrom, ocre, laranja. O DP diz que as luzes amarelas deveriam criar um ambiente que de alguma forma fosse muito feliz — feliz ao ponto de se tornar perturbador. O amarelamento da iluminação é excessivo, começa a parecer nauseante. Então, na segunda parte, a iluminação é muito mais neutra. Como a primeira parte tem principalmente, cenas noturnas (além da limusine no início), há um contraste com as sequências diurnas, iluminadas pelo sol, e as cenas externas da segunda parte. Você vê o parque, a floresta. Da mesma forma, na primeira parte há muitos atores, sempre tem algo acontecendo: muita gente falando, muita atividade de fundo. Há muita energia. A segunda metade de Melancolia é mais uma peça de câmara em termos de haver apenas alguns personagem e a luz é muito mais natural e fria.
A casa escolhida por Lars von Trier para “Melancolia”
Manuel conta que o filme francês “O Ano Passado em Marienbad” foi uma referência. Entretanto, só se tornou um parâmetro por causa do local escolhido. Especialmente pelas árvores. Uma vez que Lars viu o local, a conexão se fez facilmente e a equipe percebeu que que poderiam prestar esta homenagem a “O Ano Passado em Marienbad”. A mansão em si, Tjolöholm, fica na Suécia, meia hora ao sul de Gotemburgo. É uma casa incrível construída por James Fredrik Dickson, que era um importador escocês, imensamente rico, de madeira siberiana. É um palácio dos sonhos de um magnata que, de fato, nunca chegou a viver lá porque morreu durante uma bebedeira antes do castelo ser concluído.
Em suma, eu adoro tudo em “Melancolia”, esse filme me marcou muito. Principalmente, pelas emoções e sentimentos que ele me provoca até hoje. Lars Von Trier faz um filme atemporal sobre fim do mundo, sobre aspectos humanos, com uma produção grandiosa, extremamente artística e rico em referencias.
Muito obrigada por sua leitura, espero que tenham gostado!
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Fonte: Filmquarterly