“A Baleia”: quando a culpa se transforma em obsessão10 min read

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“A Baleia”, novo filme do diretor norte-americano Darren Aronofsky, sumido das telonas desde o polêmico “Mãe!” (2017) ressuscitou a carreira do ator Brendan Fraser. O filme segue uma semana na vida de Charlie (Fraser), um homem que sofre de obesidade mórbida e está prestes a morrer. Aqui temos uma jornada cheia de sentimentos profundos, com excelentes performances e muita reflexão.

Nenhuma história com Aronofsky é simples, toda sua filmografia tem camadas. Nesse sentido, “A Baleia” é um filme que aborda o sofrimento de quem convive com uma doença como a obesidade, o sentimento de culpa, e a busca por redenção e amor.

Charlie

Assim como o fez em “Mãe”, Aronofsky estabelece sua história em apenas um cenário: o pequeno, escuro e sujo apartamento onde Charlie vive. Nas primeiras cenas sabemos que ele é um professor e que tem vergonha de aparecer em público, sendo assim, suas aulas são com a câmera fechada. Um contraste incomum é que todos os alunos mantêm suas câmeras abertas.

Se você, assim como eu, acompanhava a série “Quilos Mortais”, ainda no ar no canal Discovery H&H, não irá se chocar com a rotina de Charlie. A realidade que Aronofsky traz pro seu longa é visceral e assustadora para quem desconhece o sofrimento de vítimas acometidas da doença. Não à toa, Aronofsky traz perspectivas comuns às histórias de “Quilos Mortais”, como por exemplo a falta que se esconde por traz do excesso de peso e a compulsão semelhante ao vício em drogas.

É bem verdade que o diretor gosta de protagonistas obcecados, e Charlie não é diferente. Porém o tratamento dado para suas motivações é diferente. Aronofsky me parece ter um olhar mais tolerante para os traumas e feridas de seu personagem principal. Entretanto, a exposição das tristezas, angústias e culpas que Charlie carrega é bastante intensa, comovente e violenta.

Os Coadjuvantes em “A Baleia”

E é neste momento que os personagens secundários aparecem. Primeiramente conhecemos Liz, amiga de Charlie que é enfermeira e cuida dele. Interpretada por Hong Chau, ela não está aqui simplesmente como uma engrenagem para o personagem principal, ela pois possui uma ligação mais complexa com ele. Ao mesmo tempo que é uma profissional da área da saúde, que sabe dos riscos que Charlie corre; ela também é sua facilitadora. Ou seja, ela é quem traz comida, faz compras e abastece a dispensa. Fraser está em uma de suas melhores performances, mas Chau não fica atrás e por consequência, está indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.

Em segundo lugar, temos a filha de Charlie, Ellie que provavelmente, é uma das adolescentes mais insuportáveis do universo. Com toda a certeza posso afirmar que toda minha antipatia por Ellie se deve à excelente atuação de Sadie Sink. Ela é o ponto de desequilíbrio do longa e uma das grandes razões daquela falta que comentei lá no início. A tentativa de Charlie de se reconciliar com a garota nos dá uma aula de resiliência, de esperança e da importância do perdão.

Outros dois personagens secundários são a ex-mulher de Charlie, Mary (Samantha Morton) e Thomas (Ty Simpkins). Este último, interpreta um missionário que vem com um discurso pronto sobre religião, mas não o aplica. É interessante que o diretor poderia ter seguido sua narrativa por este caminho, mas não o faz. E eu agradeço. Em “Mãe!” não deu muito certo, então…. 🤔

Todos estão comentando e vou chover no molhado: se Brendan Fraser não levar esse Oscar de Melhor Ator, eu desconheço o sentido de justiça. Sua performance não é só fruto da maquiagem, da grande transformação física que vemos no filme; mas a gente consegue sentir as dores de seu personagem. As marcas do seu psicológico totalmente desequilibrado, as consequências de um isolamento que se impõe fruto de vergonha, de medo, a perda de autoestima. Chega a ser difícil questionar que Brendan Fraser não é o Charlie, tamanha energia que sentimos quando ele está em tela.

O Diretor

Aronofsky tem esse poder de me deixar pensando em seus filmes por muitos dias. É um diretor que sempre buscou temas polêmicos, universais, desafiadores e desconfortáveis. Ele sempre fez questão de nos mostrar a realidade desses desconfortos, com cenas impactantes e que muitas vezes nos causam até repulsa. Embora este seja um roteiro adaptado de uma peça homônima, do autor norte-americano Samuel D. Hunter, ainda sentimos que é um filme autoral. Suas características estão ali e eu gostei muito de ver isso.

Se você quer saber mais sobre as marcas registradas de Darren Aronofsky como diretor, não deixa de assinar a minha newsletter. Ainda este mês, os assinantes da versão paga receberão a coluna “A Marca do Diretor” sobre ele. Além disso, você também terá acesso aos artigos que já foram publicados anteriormente.

“A Baleia” é um filme comovente e emocionante sobre alguém que está lutando com seu passado e tentando se redimir com o futuro. Recomendo fortemente!

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