Culpa (2018): quando a luz conta a história7 min read

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Filmado em apenas um ambiente, uma central de atendimento de emergências policiais, “Culpa” é o filme de estreia do Diretor Gustav Möeller, que trabalha muito bem o suspense da trama, a ambientação e a interpretação de seu protagonista, Asger Holm.

O fato de Asger estar confinado em um ambiente apenas, torna o filme extremamente claustrofóbico, especialmente porque não há janelas, somente luz artificial e branca. É bem incômodo! Sendo assim, este único cenário poderia ser a ruína de Gustav Möller, mas a meu ver se transforma em seu principal trunfo na construção da narrativa. Assim como o personagem principal, nós também não vemos nada do que está acontecendo do outro lado da linha telefônica.
Isso faz com que o suspense fique ainda mais atraente, nossa imaginação flui e eu só conseguia pensar no pior. À medida que os eventos do atendimento que está sendo realizado se desenrolam, vêm à tona dramas da vida pessoal do protagonista; aumentando ainda mais a carga de tensão do público.

Acho que esse foi um dos filmes mais subestimados pelo Oscar em 2019, mas até aí, também não tem novidade nenhuma. Na minha opinião, a premiação nada mais é do que uma grande vitrine de popularidade de acordo com o que os organizadores desejam promover.

Considero um exagero indicar “Roma” a melhor filme estrangeiro e melhor filme do ano. Acabaram tirando a vaga deste ou até mesmo de outro filme de qualidade para melhor filme estrangeiro. Aliás, esse foi o mesmo ano em que “Nunca Deixe de Lembrar” foi indicado e tem uma critica sobre esse filme aqui no site!

Apesar de ter sido rejeitado pelo Oscar, “Culpa” recebeu um premio no festival de Sundance, para o diretor Gustav Möller

Fotografia e Cores de “Culpa”

As cores estão totalmente adequadas ao tipo de ambiente que Asger ocupa: temperatura fria para azul, cinza e branco. Porque o branco também pode ser frio quando objetificado a partir das luzes fluorescentes e acompanhado das cores nesta tonalidade.

Entendo que a escolha por esta paleta de cores esteja relacionada aos ambientes similares que temos na realidade. Dessa forma, centrais de atendimento são, geralmente, locais nada acolhedores e pobres em cores. Tal fato faz com que os operadores não se distraiam, se mantenham calmos e controlados diante do que ouvirão. Tonalidades frias tendem a nos manter passivos, equilibrados e concentrados.

O forte aqui nessa obra é a iluminação e assim, é ela quem falará mais alto no filme.

De acordo com o diretor de Fotografia, Jasper Spanning, a iluminação deveria parecer real e não estilizada. O diretor Gustav Möller queria que o set fosse muito próximo da realidade. Möller diz que queria deveria se parecer com um beco sem saída, de forma que Asger se encontra preso. Ele passou um dia em uma central ouvindo as chamadas reais: “Foi tão intenso e dramático ouvir tudo aquilo! Mas o lugar em si é um escritório muito comum, com luz implacável. Tubos no teto, práticas e telas de computador desempenharam um papel importante no projeto da iluminação. A chave era encontrar o desenvolvimento visual da história”. À medida que a história se torna mais sombria, o personagem principal sai da luz e adentra planos mais escuros. Enquanto ele questiona seu próprio julgamento e o passado, a iluminação se torna mais sugestiva e aprimorada.

Fontes: Creative Planet Network / Birth Movies Death / Filmmaker Magazine

Filmes Relacionados

Pra mim, foi quase impossível não associar “Culpa” a outros filmes semelhantes:

  • Por Um Fio”, 2002, de Joel Schumacher. Colin Farrell interpreta um publicitário que se vê preso a uma cabine telefônica onde deve confessar seus pecados para não ser alvejado por um sniper. Todo o filme se passa ao redor dessa cabine, em Nova Iorque. Algo semelhante ao que acontece com o protagonista do longa dinamarquês, a partir do último terço.

  • Em “Festim Diabólico”, Hitchcock reúne em apenas um ambiente dois criminosos que tentam escapar ilesos de seu homicídio. Tem análise desse filme aqui.
  • Em “Locke”, de Steven Knight, Tom Hardy dá vida a Ivan Locke, um homem de família que recebe uma ligação ameaçadora e passa os 90 min do filme se deslocando de carro. Assim como acontece em “Culpa”, o filme se passa em tempo real.

Em resumo, “Culpa” é um filme muito eficaz na trama de suspense, a atuação de Jakob Cedergren, o mesmo de Submarino, é excelente e a obra merecia uma indicação ao Oscar. Mas esta é uma premiação que está sempre em desacordo com as minhas opiniões e… paciência! O bom é que a gente não precisa de Oscar nenhum pra admirar produções de qualidade como essa aqui.

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