THOMAS VINTERBERG: entenda seu conceito estético12 min read

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Em continuidade aos outros artigos que publiquei para A Marca do Diretor de Thomas Vinterberg, hoje vou falar sobre seus aspectos visuais. Em primeiro lugar, vamos falar sobre cores e como a fotografia se relacionam em seus filmes. Posteriormente, virá a parte da Direção de Arte.

Direção de Fotografia

Anthony Dod Mantle é seu grande parceiro, foi diretor de fotografia de “Festa de Família”, “The Biggest Heroes”, “Dogma do Amor”, “Querida Wendy”, “Quando Um Homem Volta Pra Casa” e “Kursk”. É ele quem traz os enquadramentos em close-up, captura a luz natural e carrega nos ombros o movimento de câmera que Vinterberg tanto aprecia em seus filmes. Além disso, é ele quem define as cores que aparecem tão elegantemente nestes filmes do diretor. Aliás, podemos notar algo sempre comum que é a fotografia lavada, apagada, com forte presença de azuis melancólicos, frios, que ilustra o emocional dos homens criados por Vinterberg.

O trabalho de Mantle em “Festa de Família” foi tão grandioso que fez dele um profissional cobiçado por diversos diretores. Como por exemplo, o britânico Danny Boyle que adorou a câmera inquieta do filme dinamarquês e o convidou para empregar a técnica em “Extermínio” (2002). A parceria virou um sucesso! Posteriormente, a consagração veio com “Quem Quer Ser um Milionário” onde Mantle levou um Oscar de Fotografia, a produção levou de melhor filme e Boyle levou de melhor diretor, entre outros diversos prêmios que o longa faturou. Além destes, Mantle e Boyle estiveram juntos em Strumpet (2001), “127 Horas” (2010), “Em Transe” (2013) e “T2 Trainspotting” (2017).

O DP também trabalhou com Lars Von Trier em três ocasiões como “Dogville”, “Manderlay” e “Anticristo”. Este último tem uma cena inicial primorosa, porém trágica, brilhantemente filmada!

Mantle também atuou em outros filmes reconhecidos como “O Último Rei da Escócia”, “Snowden”, e mais recentemente “First They Killed My Father” dirigido por Angelina Jolie.

Charlotte Bruus Christensen

Da mesma forma, outra colaboradora muito comum é Charlotte Bruus Christensen que esteve em “A Caça”, “Submarino” (seu primeiro trabalho como Diretora de Fotografia) e “Longe Deste Insensato Mundo”. Além destes, Charlotte foi DP em filmes renomados como “Um Lugar Silencioso”, “A Grande Jogada”, “Um Limite Entre Nós”, “A Garota no Trem”. Ela é vencedora de um prêmio em Cannes por seu trabalho com “A Caça”.

Charlotte diz que o diretor tem uma maneira especial de criar uma imensa proximidade com seus personagens ao contar suas histórias.:

Seja qual for o caso, ambos os filmes são filmados em um estilo realista, como aquela vila dinamarquesa tinha que se parecer com qualquer outra vila em qualquer lugar do mundo, e porque o espectador teve que se identificar instantaneamente com o personagem de Lukas interpretado por Mads Mikkelsen. ‎
‎A imagem não poderia ser muito bonita ou muito refinada… Eu senti que ele queria que este filme fosse muito “até a terra”. Em termos técnicos, isso significava que as filmagens ocorreram em sets naturais com a câmera no meu ombro. Isso, especialmente, não foi muito fácil para mim porque eu estava grávida de seis meses quando as filmagens começaram.

Com a finalidade de causar essa empatia e proximidade com os personagens, o que mais temos são enquadramentos em close-up. Temos isto em toda sua filmografia e como resultado, ao ver “A Caça” novamente, me acabei de chorar. Frequentemente Thomas Vinterberg consegue essa emoção de seus espectadores!

A paleta de cores e a luz nos longas de Thomas Vinterberg

Grande parte dos seus filmes tem um tom melancólico e tenso. Então, não faria sentido nenhum se tivéssemos cores vibrantes. Não teríamos a imersão no psicológico dos protagonistas.

Em conformidade com o clima local, a temperatura das cores é fria, grande parte de seus filmes são ambientados na Dinamarca. Sendo assim, a geografia faz grande diferença. A Dinamarca encontra-se na zona de clima temperado. O inverno deles, para nós brasileiros, é bem frio, com temperaturas médias em janeiro e fevereiro de 0 °C. Em contrapartida, o verão é fresco, com uma temperatura média em agosto de 15,7 °C.

Em suas cenas externas, existe a presença constante de uma luz branca, quase acinzentada que é fruto dos dias nublados que aparecem nos filmes. As cores tornam-se bastante lavadas com azuis e verdes frios, acinzentados, tudo tem uma aparência monocromática. A luz branca está lá, sempre presente.

Ao contrário dos exteriores, nas cenas internas, grande parte são tomadas de luz amarela, que reproduz a luz do sol, tendo em vista que os dias na região da Escandinávia costumam ser mais curtos. Por isso, eles precisam de muita iluminação interna para garantir um clima mais agradável e mais aconchegante. Em “Festa de Família”, há muito amarelo e marrom em decorrência da locação escolhida e da impossibilidade de uso de filtros. A luz amarela nos interiores é uma característica desde “Festen” e “Druk”, passando por “Longe Deste Insensato Mundo” e “Kursk. Em “A Caça” este contraste entre os ambientes externos e internos é bem evidente.

Por outro lado, em “Submarino” a paleta é predominantemente monocromática voltada para azuis e verdes em boa parte do tempo.

Outra cor que sempre marca presença nos longas de Vinterberg são os marrons, que geralmente vêm das madeiras em tons naturais que decoram as casas dos protagonistas. Vale lembrar que a Dinamarca é um país cheio de natureza, árvores e isto também está relacionado à paleta de cores que vemos nos filmes da região. Lembram-se da fotografia de Rainha de Copas? Aliás, este filme possui agradecimentos a Thomas Vinterberg nos créditos! 🥰

Thomas Vinterberg e a Direção de Arte

Embora exista o conceito de decoração escandinava onde o minimalismo é priorizado, os ambientes de Thomas Vinterberg têm outra forma. O conceito de decoração escandinava preza por muito minimalismo, linhas retas, tecidos naturais, cores neutras e bastante espaço. Do mesmo modo, as madeiras devem ser em tons claros para harmonizar com a paleta de neutros. Não apenas devem ter muitas janelas para entrada de iluminação natural como também devem existir muitas plantas.

Mas, existe outro conceito bastante dissipado na sociedade dinamarquesa que é o hygge. Trata-se de uma filosofia de vida que tem como base o bem-estar, o aconchego, diversão e está associado à felicidade. Dessa forma, o que nós vemos nos ambientes criados por seus Diretores de Arte é exatamente alinhado com esta filosofia de vida. Podemos ver na escola em que Lucas (“A Caça”) trabalha, muitas almofadas tornando o ambiente das crianças muito prazeroso. Assim como outros ambientes do filme evidenciam esse mesmo calor, sinalizando que a casa é o lugar seguro, é onde eles buscam conforto. Em contraste aos exteriores que tendem a ser brancos e acinzentados.

Nesse sentido, percebemos que também há a presença de mais cores e que isso faz parte do ponto de vista deles. Assim como o nosso blog aqui, cores trazem mais alegria para os dias abreviados deste povo, traz diversão e descontração.

Em resumo, percebe-se muito claramente é que, ao contrário de Lars von Trier Que optou por um cinema mais exagerado, Thomas Vinterberg continua seguindo o objetivo do Dogma 95. Ambos possuem semelhanças sim; mas Vinterberg permanece muito fiel no aspecto realista de suas temáticas e eu adoro isso nele!

Espero que este guia tenha sido útil para quem ainda não conheci Thomas Vinterberg e queria saber mais para se preparar para o Oscar. Para quem conhecia pouco, espero que tenha ajudado a entender mais sobre o estilo deste diretor tão incrível!

Por fim, se você gostou me segue nas redes sociais e…

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