No dia 15-março o Oscar anunciou seus indicados e entre eles estava Thomas Vinterberg para melhor diretor, devido a seu trabalho em “Another Round”.
Embora esteja entre os meus favoritos de 2020, não acho que seja o melhor do diretor e muitas pessoas nem mesmo o conhecem. No intuito de trazer mais informações e dissipar o melhor de seu cinema, resolvi fazer “A Marca do Diretor” sobre ele.
Acredito que muitos de vocês que acompanham o COLOR e outros que me conhecem, sabem que sou apaixonada pelo cinema nórdico. Sim, eu sou daquelas que está sempre caçando um filminho dinamarquês, norueguês pra assistir.. 😂
Porém ainda não tinha assistido tudo de Vinterberg e esta foi uma excelente oportunidade pra me aprofundar na obra de um profissional que gosto tanto.
Thomas Vinterberg nasceu em Copenhague, na Dinamarca, no dia 19-maio de 1969, tem 51 anos. Seu primeiro filme e trabalho de conclusão de curso foi “ Slaget pa Tasken” que não possui tradução para português. Em seguida, surgem trabalhos como diretor de videoclipes. Só para exemplificar alguns: “No Distance Left to Run” da banda Blur e para o Metallica com a faixa, The Day That Never Comes.
RECONHECIMENTO E O DOGMA 95
Porém, foi em 1998 que o diretor alcançou sua aclamação internacional com o longa “Festa de Família”. Primeiro filme que seguiu os princípios e regras do Dogma 95. Caso você não conheça, foi um movimento que ele e Lars Von Trier criaram para facilitar a produção de filmes, inclusive de baixo orçamento. Além disso, os princípios do dogma pregam que o cinema deveria ser mais realista e menos comercial. A ideia central era resgatar uma época mais autoral, como era feito antes da exploração comercial da área tal qual acontece em Hollywood.
Além disso, foi o primeiro filme a seguir precisamente os mandamentos do dogma, “Festa de Família” foi reconhecido internacionalmente. Surpreendentemente, o filme recebeu indicação a um globo de ouro e um BAFTA de melhor filme estrangeiro. Vinterberg recebeu um prêmio do júri em Cannes e foi indicado à Palma de Ouro neste mesmo festival.
O filme que traz polêmica, denuncia sua característica mais evidente que é expor o cerne das questões que se revelarão, nos primeiros 20 minutos. Isto acontece em “Festa de Família”, “A Caça”, “Submarino”, “A Comunidade”, “Kursk” e outros. A antecipação de seus argumentos centrais faz com que ele consiga trabalhar camadas de forma mais profunda. Como resultado, ficamos mais pensativos, nos instiga a prosseguir assistindo. Nesse sentido, ficamos presos àqueles universos a partir dos desdobramentos, dos impactos que seus protagonistas sofrem e como irão agir em função disto.
Os personagens de Thomas Vinterberg
Sendo assim, é comum em sua filmografia termos protagonistas masculinos e, geralmente, eles estão inseridos dentro de um contexto familiar. Seu primeiro longa reconhecido carrega este aspecto no título, assistimos tudo a partir do ponto de vista de Christian, interpretado por Ulrich Thomsen. Ele revela as grandes verdades que durante anos ficaram escondidas. Vinterberg já contou em diversas ocasiões que foi criado em uma comunidade onde o senso de família e coletividade foi imperativo. Sendo assim, ele guarda este sentimento com grande relevância desde sua infância até hoje. Semelhantemente, “A Comunidade” (2016) conta uma história deste tipo, a partir do ponto de vista de Erik, interpretado pelo mesmo Ulrich Thomsen.
Por consequência de ter vivido neste ambiente, interagindo com diferentes pessoas, de diferentes culturas, despertou seu interesse por dramas. Ele afirma que é seu gênero favorito. Ele explica que é um curioso pelas vulnerabilidades e natureza humanas, se interessa pelo que as pessoas mostram e escondem do mundo.
Vinterberg acredita que em toda parte do mundo existe um pouco de escuridão e de sofrimento. Em contraste com outras culturas, Vinterberg diz que a diferença é como cada um aborda estes assuntos. Na Dinamarca, eles usam isso em suas artes e ele acredita ser uma forma de se libertar destas questões.
Embora grande parte de seus personagens centrais sejam homens, eles poderiam ser facilmente substituídos por mulheres ou qualquer outro gênero que você se identifique. Justamente pelo fato de eles passarem por situações tão reais e comuns que simpatizamos e rapidamente nos colocamos em seus lugares.
Os personagens criados por Vinterberg são carismáticos e assim, sentimos por eles.
As parcerias com atores
Imediatamente percebemos outra característica de Vinterberg que é repetir alguns atores, tais como: Ulrich Thomsen, Trine Dyrholm, Thomas Bo Larsen, aliás, o campeão de presenças.
Primeiramente, Thomas Bo Larsen atuou em “Festa de Família”. Logo depois em “The Biggest Heroes”, “Dogma do Amor”, “Querida Wendy”, “A Caça”, posteriormente em “Druk – Mais Uma Rodada”. Ele sempre interpreta, com muita competência e habilidade, personagens coadjuvantes que se destacam e com relevância. Com efeito, esta é uma parceria de sucesso, Bo Larsen recebeu diversas indicações em festivais dinamarqueses e a oportunidade de trabalhar com outros diretores renomados. Como por exemplo, Nicolas Winding Refn em “Pusher”, onde atua novamente ao lado de Mads Mikkelsen. Thomas Bo Larsen trabalhou com Susanne Bier (“Bird Box”, “The Undoing”), em “Segunda Chance” que, assim como os longas de Vinterberg, aborda um assunto polêmico.
Mads Mikkelsen + Thomas Vinterberg = Prêmios
Mas já que falamos sobre Mads Mikkelsen, por que não citar que ele tem a mesma profissão nos dois filmes em parceria com Vinterberg?! Em “A Caça” ele interpreta um professor acusado de abuso por uma aluna de 5 anos. Ele é, igualmente, um professor em “Another Round”. A colaboração entre eles sempre rende sucesso e premiações. Como resultado, “A Caça” também foi indicado a um Oscar de Melhor filme estrangeiro.
Do mesmo modo, a atuação de Mads, em ambas as oportunidades cai perfeitamente bem nas histórias que Vinterberg gosta de contar e na forma como as expõe. Nesse sentido, o diretor tem uma visão muito humana e realista para seus personagens. Geralmente são pessoas que poderíamos encontrar na nossa rotina, em nossos ambientes de trabalho, na academia, na faculdade. Eles carregam dramas que, embora controversos, existem no nosso dia a dia. E isso se repete tanto em histórias de ficção como também em filmes baseados em fatos verdadeiros como “Kursk”.
Nesse sentido, ele transforma uma tragédia como a explosão de um submarino russo num conto minimalista sobre um indivíduo. Matthias Schoenaerts interpreta um jovem pai de família, Mikhail. Ele tem uma linda mulher (Lea Seydoux), que está grávida e é um herói para seu filho. A tripulação do submarino, homens, vira uma grande família que luta para sobreviver à uma catástrofe. Ele evidencia o sofrimento dos familiares em terra, o desespero daquela mulher para conseguir uma notícia que seja de seu marido. Em outras palavras, Vinterberg humaniza seus protagonistas ao ponto de eles não serem heróis, apenas homens comuns. Sobretudo, pessoas comuns.
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Enfim, aqui se encerra esta primeira parte da Marca do Diretor sobre Thomas Vinterberg. Espero que eu tenha esclarecido e ajudado você a compreender um pouco do estilo de direção dele e que tenha gostado.
Afinal de contas, deu um trabalhão pra fazer e conto com você pra compartilhar com todo mundo!
Por fim, me segue nas redes sociais e fica ligado na segunda parte que será sobre como Vinterberg elabora seus roteiros!