Depois de quase 2 anos sem ir ao cinema, meu retorno foi em grande estilo: assistir “Um Herói”, filme de Asghar Farhadi. Ele, que é um dos meus diretores favoritos, é muito conhecido por seus longas premiados como “A Separação” (Oscar de Melhor Filme Estrangeiro), “O Apartamento” (Oscar de Melhor Filme Estrangeiro).
Em “Um Herói” ele faz algo semelhante ao que acontece em “A Separação”, uma história mal explicada vira uma grande bola de neve. Nesse longa, acompanhamos a jornada de Rahim, que está na prisão por causa de uma dívida que não pôde pagar. Durante uma licença de dois dias, ele tenta convencer seu credor a retirar a queixa prometendo o pagamento de parte da quantia. Mas as coisas não saem como planejado.
Rahim é um homem por quem não sabemos direito o que sentir, se pena ou compaixão. Desde o inicio do filme vemos que ele não apenas mente como também omite pequenos detalhes. Tal comportamento será sua ruina diante dos fatos que acontecerão.
A forma como Farhadi expõe os acontecimentos de sua trama é simples, mas muito bem trabalhada. Cada um dos pequenos detalhes que Rahim esconde ou fabrica contos para os outros é cobrada a ele em forma de árduos revezes. Isto também nos leva à uma dúvida quanto às reais intenções do protagonista. Nunca saberemos se o ato de devolver a bolsa ao seu verdadeiro dono foi uma grande jogada de publicidade ou realmente um drama de consciência. Sob o mesmo ponto de vista, ao julgar ou tirar estas conclusões acerca do protagonista o diretor faz com olhemos pra dentro de nós mesmos.
“Um Herói” mostra que o tribunal das redes sociais também chegou ao Irã
O circo midiático que se forma em torno da devolução de 17 moedas de ouro também é algo muito questionável. Realmente é um feito nobre ou é apenas obrigação de Rahim enquanto individuo e membro da sociedade? Nenhuma destas respostas são dadas facilmente por Farhadi. Isto é um dos maiores presentes que o diretor poderia nos dar!
Além disso, o filme insere um fator presente em todo o mundo que é o tribunal das redes sociais e sua moral “inquestionável”. Entretanto, é ela quem aponta os dedos para os grupos interessados na atenção ao gesto de Rahim. A penitenciária, a entidade que arrecada fundos para ajuda-lo a pagar sua dívida, o próprio Rahim, o credor e a família. Em “Um Herói”, Asghar Farhadi soube como trabalhar estes diversos olhares, sem deixar nada de fora. Não é a toa que levou o premio do juri no Festival de Cannes.
Outro ponto sempre assertivo do diretor é misturar diversos gêneros de forma imperceptível. Ao mesmo tempo que fiquei angustiada com o suspense, soube também dar risadas de algumas situações. Por vezes, o filme tem um tom meio satírico com as brigas, o falatório alto, todo mundo falando junto. Isto nos provoca um certo alivio dos momentos mais dramáticos e de suspense.
Posso apontar facilmente que este é o protagonista mais alegre dos longas de Farhadi que já assisti. Ele, simultaneamente, carrega um sorriso alegre e um olhar pessimista. Aliás, o ator Amir Jadidi tá de parabéns porque eu adorei sua interpretação. Ele sabia exatamente quando deveria empregar o tal sorriso e quando devia curvar as costas, assim como se estivesse carregando o peso do mundo.
Eu adoraria assistir “Um Herói” novamente pra ver mais do filme. De todos os filmes que assisti até o momento, sem dúvida, este é o melhor. Adoro esse gostinho de quero mais, de ficar pensando no filme para além da sessão do cinema! E assim, Farhadi vai se sustentando dentro do meu coração por mais 10 anos!
“Um Herói” faz parte da categoria Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de SP. Terá sessões apenas presenciais. Para comprar seu ingresso, confere aqui.