Finalmente acabou a correria das cabines de imprensa da 44ª Mostra de Cinema de SP e, consegui assistir a todos os filmes que queria. Depois de 3 semanas de muita ocupação, eu queria assistir algo bem leve e pra isso qual a melhor opção? Originais Netflix.
Foi aí que apareceu a série “Emily em Paris”, com Lily Collins. Eu gosto dela!
Antes de mais nada, eu já adianto que achei a série super adolescente e me pergunto quando Lily Collins vai fazer um papel adulto (?). Ela é boa atriz, mas só faz esse mesmo tipo de papel: garotas ingênuas, adolescentes passando pela jornada do herói, etc. Tirando “Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal” onde ela não tem muito destaque, ela só faz papel de garota.
Cores e Fotografia
Pra começar, a paleta de cores não é nada original. A escolha foi o RGB: red (vermelho), green (verde), blue (azul). As cores escolhidas para Emily são em grande parte o vermelho e seus derivados, como o rosa. Nesse caso, serve para centraliza-la como protagonista e faz oposição à cor escolhida para sua antagonista, a chefe Sylvie Grateau, que é o verde.
Sylvie está sempre em tons de ou com pontos de verde. Nós já falamos aqui que o verde serve para expor a posição de vilania dos personagens e isso se associa ao sentimento de raiva. Porém, aqui eu adiciono uma outra interpretação. Como vimos em “Um Corpo Que Cai”, o verde é uma cor ambígua. Tanto podemos dizer que é boa por conta do verde das árvores, por exemplo, como podemos associá-la a coisas ruins como o mofo. Em “Emily em Paris”, podemos afirmar que é o verde da infidelidade: tanto Sylvie quanto Emily são infiéis. Sylvie sabe que Antoine tem esposa e ainda assim mantém um caso extraconjugal com seu cliente.
Nesse sentido, notem que Emily aparece com um sobretudo verde quando se encontra com Gabriel e Camille. Aliás, ela usa esta mesma peça quando faz propaganda de graça para uma marca que não é mais cliente de sua empresa.
As faces do azul
O azul ficou por conta dos interesses amorosos: tanto Antoine quanto Gabriel usam essa cor quando ao lado delas. Dessa forma, o azul que aparece, normalmente em tons mais escuros, não vem apenas com a interpretação de sensualidade como também de intelectualidade. Não à toa, ambos demonstram pra Emily que são mais do que charme e rostinho bonito. Antoine tem suas ideias bem estruturadas e conhece muito bem seu produto, enquanto Gabriel é um chef de cozinha curioso, talentoso e quer ser independente.
Ademais, outros personagens que têm o arquétipo do mentor também são vistos em peças azuis. Como por exemplo, Camille quando a conhece, Julien, e a própria Sylvie em algumas ocasiões.
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Além das cores
“Emily em Paris” é puro entretenimento, passatempo. Entretanto, algumas coisas me incomodaram bastante. Como por exemplo, a forma caricata e estereotipada com que os franceses foram retratados: nos primeiros episódios eles são arrogantes e mal educados e do meio pro final, pessoas que só pensam em sexo. Chato demais e nada respeitoso.
Por outro lado, esses episódios iniciais também expõem a ignorância habitual dos americanos. Podemos assistir essa mesma característica em outras séries, pra exemplificar, “How I Met Your Mother”.
Não é novidade que americanos são egocêntricos, desconhecem capitais de outros países, gastronomia e cultura locais de estrangeiros. Ou seja, não é de se estranhar que Emily vá morar em Paris sem falar francês, americanos viajam pra outros países contando que o mundo fale inglês. Eu mesma já presenciei isso, em Paris inclusive.
Além disso, é absurdamente incongruente que uma jovem que se diz engajada em redes sociais e tão inserida no mundo digital não conheça nada da cultura francesa. Ela realmente não pesquisou nada sobre o local aonde estava indo morar? A personalidade dela tem algo de extremamente irritante, ela parece uma retardada, andando na rua, olhando pra cima e rindo pra tudo. Um deslumbramento piegas e cafona, assim como seu figurino.
A propósito, o figurino não é algo que me incomodou, mas achei de mau gosto. Se a inspiração foi “O Diabo Veste Prada”, eles erraram feio. O que a Emily de Emily Blunt tinha de fashionista e elegante, a de Lilly Collins tem de caipira.
Além disso, Sylvie é uma imitação barata de Miranda Priestly e Emily não tem a potência de Andrea ou a sofisticação e autoconfiança da própria Emily. Bem como a forma com que as situações se apresentam na série, simplesmente não tem criatividade nenhuma. Faltou refino ao realizar uma releitura e ficou grosseiro.
Vale a pena assistir assistir “Emily em Paris”?
Por fim, não vejo semelhanças com “O Diabo Veste Prada”. O filme protagonizado por Merryl Streep tem muito mais conteúdo, subtemas, crítica social, boas interpretações e charme do que a série.
Mas, depois de tantos dias imersa nos filmes da 44ª Mostra de Cinema de SP, eu realmente queria um descanso pra cabeça e nada melhor do que a Netflix nessas horas, recheada de séries/filmes que são entretenimento e nada pra pensar. “Emily In Paris” caiu como uma luva, mas eu não podia deixar passar esse olhar mais crítico.