Confiança é uma escolha
Elsie Fischer, protagonista de “Eighth Grade” foi indicada ao Gobo de Ouro de Melhor atriz em filme de Musical ou Comédia. – Francamente, não consigo entender essas indicações, uma vez que, Eighth Grade não tem nada de engraçado ou de musical. Ou será que eu estou perdendo o senso de humor? 🤔 – Uma indicação merecida, uma vez que ela é o sol desse filme.
- Título original: Eight Grade
- Data de lançamento: 3 August 2018 (USA)
- Diretor: Bo Burnham
- Diretor de Fotografia: Andrew Wehde
- Elenco: Elsie Fisher, Josh Hamilton, Emily Robinson
- Sinopse: Kayla (Elsie Fisher), de 13 anos, como toda jovem do subúrbio americano, sofre na última semana do ensino fundamental – o fim de seu até agora desastroso ano da oitava série/nono ano – antes de começar a frequentar uma escola nova no ensino médio.
O filme retrata uma menina que está saindo do ensino Fundamental para o Ensino Médio e ela não tem aquele tipo de personalidade que possamos afirmar ser social. Na verdade, ela não é nem um pouco, nem mesmo nas redes sociais onde ela cria um personagem bem diferente do que vemos em sua vida cotidiana. Ela não tem amigos, tanto online quanto no mundo real.
É bem interessante observar no detalhe a abertura do filme, com Kayla gravando um vídeo para o YouTube: a câmera vai afasta a medida em que ela vai “mentindo”. Uma representação gráfica de que o que é dito por ela não condiz com a realidade, é um indicio de que ainda não conhecemos verdadeiramente essa menina.
Gosto de ver a forma como Kayla é retratada: tem profundidade, ela me parece uma adolescente real dos dias atuais e a forma como ela se relaciona com quem está em volta também. Ainda que seja uma youtuber, sua vida não se passa apenas no mundo digital, embora o acesso às redes sociais seja exaustivamente frequente. Ela tem o comportamento típico de alguém da sua idade e percebemos isso em diversos momentos no longa: suas reações às tentativas do pai em conversar, quando treina o beijo na mão, se encanta com o garoto (já) idiota-popular da classe, sente vergonha em roupas de banho e quando se isola na piscina ao tenta esconder o corpo, diga-se de passagem numa linda cena azul de água. Eu adoro quando diretores de fotografia atribuem texturas às imagens. 😍
O pai de Kayla, Mark, é um personagem pouco detalhado pelo diretor Bo Burnham, mas observamos que é realista. É comum os pais de adolescentes apresentarem certa dificuldade em se comunicar com seus filhos durante esse período e Mark tenta a todo instante, puxando assunto desde os temas mais banais até os mais sérios; quando nos aproximamos do último terço do filme. Não chega a ser um pai ausente, mas ele não encontra meios para furar o bloqueio que existe entre ambos.
O desfecho do longa tem tensão e é bem-intencionado no sentido de passar mais proximidade entre ambos. Numa conversa meio desajeitada, Kayla finalmente se abre e demonstra seus sentimentos para o pai que também o faz. Não posso afirmar que houve negligência no texto; mas foi um diálogo superficial para uma história que tem uma trajetória realista. Faltou consistência nesse momento para atingir os objetivos que se queria.
Cores e Fotografia
A paleta de cores tem o cinza, amarelo e rosa como base. Essa é uma escolha interessante pois tais cores combinadas representam a infância e de fato, a escalação é coerente, uma vez que Kayla está num momento particular de transição. Analisando cada uma em separado, temos traços da personalidade da protagonista.
A combinação entre branco, que representa a clareza, e preto, que representa a escuridão; temos o cinza que traz a insegurança consigo, é aquilo que é incerto; nem ao menos temos certezas de sua temperatura: pra ser frio precisamos de um toque de azul e pra ser quente, um toque de amarelo.
E é exatamente dessa forma que sua diversidade se dá no longa. Quando Kayla se sente mais confiante, o ambiente é solar e o cinza se apresenta mais quente, ou quase não participa, como no frame abaixo, ponto alto de sua confiança na história:
A presença do rosa sempre nos inspira ao feminino e sua gradação é que vai ditar a época. Temos aqui um rosa juvenil, mais maduro do que os pastéis que trazem a sensação de infantil demais: não a toa o chamamos de rosa-bebê. Kayla é uma menina feminina, que tem vaidade e notamos isso no primeiro ato, quando a vemos se maquiando para tirar fotos.
A iluminação também é um ponto a se observar pois ela muda de acordo com o humor de Kayla. Notem como é mais escuro quando ela está melancólica, meio triste ou confusa:
Aqui a menina está transformada depois de ter cumprido o Ensino Fundamental, foi um longo processo de autoconhecimento e seu rosto é exibido mais iluminado. Se no início a câmera se afasta para denotar sua insegurança e confusão sobre si própria, no fim o plano se fecha num enorme close de seu rosto com a intenção de trazer mais intimidade e autoconfiança.
De fato, o filme está enquadrado como comédia no IMDB, mas eu, particularmente, salvo 2 cenas em especifico, não vejo porquê. Lançado nos Estados Unidos em 3 de agosto de 2018, “Oitava Série”, título recebido em português, não há data prevista de estreia em telas brasileiras.
EDIÇÃO – 17/junho/2019:
Eight Grade ou Oitava Série, título que recebeu em português acabou de estrear no streaming:
- Now, R$ 14,90 (aluguel)
- YouTube e Google Play, R$ 6,90 (aluguel) e R$ 24,90 (compra)
- iTunes, R$ 14, 90 (aluguel) e R$ 44,90 (compra) – 14 anos