“Lua Azul” é desses filmes onde o tema é mais importante do que o filme em si. Aqui acompanhamos a jornada emocional de uma jovem que caminha rumo a um processo de desumanização. Irina luta para conseguir chegar ao ensino superior e, assim, escapar da violência de sua família problemática. Uma experiência sexual ambígua com um artista estimulará a intenção da garota de combater essa violência familiar. O título é dirigido pela romena Alina Grigore.
Entretanto, a narrativa não tem a mesma potencia da sinopse. Nosso primeiro contato com Irina já é, de cara, bastante conturbado. Dessa forma, ela acorda de forma brusca, com a irmã em cima dela pedindo segredo sobre algo que ainda não sabemos do que se trata. Logo depois, vemos cenas da dinâmica caótica da família onde ninguém se entende. Ninguém fala, todos gritam, são grosseiros e objetos voam pelos ares.
Acho interessante contextualizar que não se trata de uma família pobre, muito pelo contrário. A família possui um hotel de luxo nas colinas romenas, onde todos trabalham juntos. Posteriormente, vemos Irina trabalhando e é justamente onde ela sofre os maiores abusos e intimidações pelo primo, Liviu.
Sob esse mesmo ponto de vista, é interessante entendermos quem é Irina. Ela é uma pessoa bastante calada, oprimida, submissa, triste, apática. Por outro lado, a irmã, Vicki, é agressiva, escandalosa, irritadiça, um barril de pólvora prestes a explodir. Uma vez que entendemos esse cenário, é fácil compreender porque Irina não busca respostas pra sua noite de bebedeira intensa e amnésia matinal. Numa festa, ela tem uma relação sexual duvidosa com um homem mais velho. Mas decide manter a relação. Este relacionamento fará com que ela tenha forças para buscar saídas para sua situação.
Entenda quem é o abusador em “Lua Azul”
Por outro lado, é importante também entendermos quem é o abusador, Liviu. O primo com dislexia, frustrado, controlador, repugnante, agressivo, irritadiço, totalmente descontrolado. Entretanto, vemos ele repetir comportamentos de outros membros da família, como por exemplo, seu irmão Sergiu que também abusa psicologicamente dele. Liviu se encontra dentro da mesma espiral de caos do restante da família. Mas isso não faz com que tenhamos qualquer empatia pelo sujeito.
Dessa maneira, eu esperava um filme bem mais impactante. Salvo as cenas de violência doméstica e tortura psicológica que Liviu protagoniza, temos apenas uma historia que anda em círculos, não chega a lugar nenhum. Irina não tem um arco dramático bem definido, ela não tem sai do estado de tentativas para o plano de atitudes efetivamente. Fica claro que não há nada que, de fato, prenda ela naquela situação e ainda assim, ela permanece. Este é um ponto de vista interessante pois mostra seu estado de total entrega à situação. Porém esta questão também não tem um desenvolvimento.
Em resumo, pra mim, o sentimento de frustração foi grande! Eu tinha boas expectativas com relação a “Lua Azul”, acho que os argumentos são muito bons. Nesse sentido, tinha o que extrair a mais além de apenas nos chocar com cenas de violência. Uma pena.
“Lua Azul” venceu o prêmio de melhor filme no San Sebastián International Film Festival. Ele está em cartaz na 45ª Mostra Internacional de Cinema de SP através da Mostra Play e também nas salas de cinema. Você pode conferir a programação presencial clicando aqui ou comprar seu ingresso pela plataforma digital por aqui.
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