Na minha opinião, Pantera Negra é o melhor filme da Marvel, pelo menos, até o momento.
E sim, eu assisti Vingadores - Guerra Infinita e vou dar essa opinião depois.
Gosto muito da idéia de Pantera Negra ter passado do patamar de filme de herói, é um filme dirigido por um negro, com um elenco quase todo negro, trilha sonora produzida por um negro. É o primeiro filme de super herói com uma carga de simbologia e representação extremamente fortes para a cultura negra e, acredito que também para mulheres. Principalmente, para as mulheres negras.
Veja abaixo algumas leituras que considerei interessantes do filme:
Kênya Freitas / Folha / Plano Crítico - Com Spoiler
1. Adorei a forma como Wakanda foi abordada:
O filme inicia contando a história de Wakanda, do Rei T’Chaka e nos situa no tempo, quando vai acontecer a coroação de T’Challa, uma vez que o rei morreu (Capitão America: Guerra Civil). Sua apresentação ao público é diferente das demais pois vemos muito claramente os costumes locais, a relação de T’Challa com a família, seus medos e suas incertezas. Achei algo inovador pois é diferente do que a Marvel fez até o momento ao ambientar o universo de seus personagens, e nada impedia que isso fosse feito para Thor, uma vez que Asgard tem potencial e cultura suficientes para que fosse mais explorado.
2. As mulheres têm protagonismo:
Quando você escuta falar de um uma gênia na área de ciências e tecnologia, chefe de um laboratório, mais inteligente que Tony Stark? Shuri, além de tudo isso, é linda, engraçada, simpática e divertida.
Okoye é quem comanda o exército de Wakanda.
Nakia é a namorada do herói, mas sua vida não gira em torno dele, muito pelo contrário, impõe condições para atender seu pedido de retornar à terra natal visto que é uma ativista, que tem vida independente.
Somado a isso, um outro aspecto interessante com relação às mulheres, foi a escolha para os figurinos que estão relacionados a cores da bandeira sul-africana:
Okoye (a fiel general) e as Dora Milaje (o exército feminino), estão sempre de vermelho.
Nakia está vestindo predominantemente tons terrosos e verde.
Shuri utiliza basicamente tons claros e branco.
Segundo a figurinista Ruth E. Carter, seu grande desafio era fazer um design futurista inspirado no país. Ficou realmente bonito de se ver na tela, além de ter um toque extremamente sofisticado e contemporâneo!
3. A Fotografia, as cores e o CGI - cenas geradas por computador:
Os efeitos visuais ficaram a cargo da Method Studios e eu, particularmente, achei muito bom. No retorno do resgate de Nakia, de dentro de sua nave, vemos um belo sobrevoo sobre o local e é simplesmente lindo, verossímil, totalmente gerado por computador.
As cenas de ação posteriores são fantásticas, super empolgantes e, obviamente, vêm acompanhadas de toneladas de CGI. Mas é algo extremamente bem feito, não é falso, exagerado ou cafona.
Por exemplo nesta cena abaixo, onde há a perseguição de carro, diversos elementos foram gerados por computador: os carros e suas destruições, a constante troca de roupa e capacete de T’Challa, as cores internas.
Deixo aqui embaixo um vídeo para vocês verem algumas situações de CGI do filme:
Sobre as roupas de ambos Panteras, o Supervisor de Efeitos Visuais Daryl Sawchuck disse que sua equipe e a da Marvel passaram meses redesenhando o design desses uniformes até chegarem à conclusão de que o ideal era que fossem gerados graficamente.
Um outro vídeo interessante é sobre a maquiagem de Killmonger e vocês conseguem ver também o tipo de roupa que eles usaram:
Uma curiosidade a esse respeito é que em cenas de luta como essa abaixo onde T’Challa reaparece de uma explosão, ele foi filmado em um set todo azul e todo o cenário bem como os homens que voam em torno dele, foram gerados digitalmente. Aliás, a Marvel utiliza muito esse recurso de dublês e manequins gerados por computador.
A Diretora de Fotografia da produção é Rachel Morrison, que trabalhou com o diretor Ryan Coogler anteriormente em Fruitvale Station e este ano conseguiu um feito no Oscar: a primeira mulher a ser indicada ao prêmio de Melhor Fotografia por Mudbound.
Segundo ela, o trabalho em Black Panther não foi muito diferente dos realizados em outros filmes menores, mesmo sendo um filme baseado em efeitos visuais; mas sem dúvida, seu grande desafio foi a iluminação e como solução foram utilizados painéis de luz da Arri, mesma empresa que faz as famosas câmeras ALEXA. De acordo com Morrison, esses painéis estavam espalhados por todos os sets, o que permitiu o uso diversificado de cores, controle de intensidade de luz e sombras via wifi, além da possibilidade de ensaiar a iluminação sem a necessidade de retirar os atores de cena. Como dito por ela, foi algo ainda não experimentado e fascinante!
Veja abaixo um pouquinho sobre a versatilidade dessa ferramenta:
Um belo exemplo onde fotografia, cor e CGI convergem é no momento quando T’Challa é coroado por seu fiel súdito Zuri, que, reparem bem, está vestido de roxo.
Depois eles vão a uma sala onde o novo rei irá beber um líquido que vem da erva de formato de coração que concederá os poderes do Pantera Negra. O líquido é roxo e ele será transportado ao Plano Ancestral onde T’Challa encontrará seu pai num cenário, obviamente gerado por computador, predominantemente roxo.
Esse roxo com azul quer nos dizer que nosso Pantera está passando por um momento de mudança, de transição. Ele irá assumir grandes responsabilidades e deverá tomar decisões importantes para toda nação de Wakanda, além de estar passando pelo dilema de abrir suas portas para o mundo, receber refugiados ou não, ajudar países em necessidades ou não.
Reparem também como o plano é bem enquadrado nos personagens, o que nos quer dizer que este é um ponto importante, de atenção na estória. E, de fato, é um diálogo importante para o herói.
4. Eric Killmonger, o vilão:
um ponto alto é a participação de Michael B. Jordan, extremamente carismático (bem mais do que Chadwick Boseman), o personagem tá cheio de propósitos e tem background psicológico para fazer o mal. Quando assisti pela primeira vez, passei o filme inteiro pensando no quão interessante teria sido uma inversão desses papéis.
O elenco todo é sim muito bom e a interpretação fraca de Boseman não interfere na estória nem no andamento do filme.
Lembrando das cores dos figurinos, como mencionado mais acima, percebam como T’Challa está sempre em tons escuros, principalmente preto.
5. A trilha sonora é um show a parte:
Comandada por Kendrick Lamar e Anthony Tiffith, a trilha sonora de Pantera Negra é totalmente inspirada no filme e pode-se perceber que seu simbolismo também está arraigado nas letras das faixas.
Para quem ainda não conhece, Kendrick Lamar é a voz do momento na música hip hop/rap. Ele foi vencedor de 5 troféus do Grammy neste ano, incluindo o de melhor álbum de rap e melhor clipe por Humble. #amo
O disco reúne também alguns outros artistas em alta no momento, como a cantora SZA, indicada a 5 Grammys, que faz colaboração na música que toca nos créditos, “All Stars”, e; o rapper Khalid, igualmente nomeado em 5 categorias do prêmio, garantiu sua presença no álbum com “Ways” (minha favorita!).
Parte da letra de “All Stars” é um misto de protesto e esperança, assim como acontece na cultura negra:
Oh, you important?
You the moral to the story, you endorsing?
Motherfucker, I don’t even like you
Corrupt a man’s heart with a gift
That’s how you find out who you dealin’ with
A small percentage, who I’m building with
I want the credit if I’m losing or I’m winning
On my momma that’s the realest shit
Girl, let’s talk about love
Is it anything and everything you hoped for?
Or do the feeling haunt you?
I know the feeling haunt you
All the stars are closer, all the stars are closer, all the stars are closer 🎵/
Espero verdadeiramente que a segunda edição da franquia Pantera Negra seja tão boa quanto essa e nos traga mais protagonismo da cultura negra. Eu simplesmente adorei! 🙅
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