“Mães de Verdade” foi o primeiro filme liberado para a imprensa da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. E eles não poderiam ter começado melhor: um filme japonês dirigido por Naomi Kawase. Como eu ainda não conhecia a diretora, compartilho aqui o que descobri sobre ela.
Naomi Kawase é japonesa, tem 51 anos, é formada em artes visuais pela Nagoya Visual Arts e também pela Visual Arts College Osaka. Seus principais trabalhos são: Suzaku (1997), O Segredo das Águas (2014) e Sabor da Vida (2015).
Além disso, ela é a primeira diretora japonesa a integrar o corpo de jurados do festival de Cannes.
Mães de Verdade é um dos destaques da Mostra de Cinema de SP em 2020 e é baseado em um romance de 2015 de Mizuki Tsujimurafoi.
O longa chegou a ser selecionado para o Festival de Cannes de 2020. Porém, o evento foi cancelado, mas ganhou seu espaço na nossa mostra.
Paleta de cores e fotografia
O filme é tomado pelos tons da natureza e suas texturas: folhas verdes, cerejeiras brancas, o sol de luz branca, marrom de madeira, das árvores, o azul do céu e da luz cristalina do mar de Hiroshima.
Aliás, é simbólico ver a cidade de uma outra perspectiva bem diferente dos filmes da 2a guerra mundial. Aqui ela abriga uma casa onde as grávidas que darão seus filhos pra adoção ficam hospedadas, em meio a muito amor, compaixão, carinho e compreensão.
Acredito que não há nada melhor num momento tão difícil como esse.
A fotografia é assinada pela própria diretora, por Naoki Sakakibara e Yûta Tsukinaga.
Temos paisagens deslumbrantes e douradas para momentos felizes da protagonista, Hikari, que posteriormente irão contrastar com seus interiores cinzentos e apáticos.
Para esses momentos de menos luz, temos exatamente aquilo que combina: sombra, rostos encobertos, florestas escuras, assim como a letra da música que é o tema do filme.
Por outro lado, existe uma ocasião em que temos uma experiência documental, o que pra mim, ficou bastante interessante e dá um ar de veracidade à ficção.
Embora não exista espaço para nos confundirmos, ainda assim temos essa impressão.
Não há mudança na estética, na textura da imagem nem nada, mas notamos essa pegada de documentário.
Outros elementos visuais
Com a finalidade de nos mostrar as mudanças na vida das personagens e a passagem do tempo, a diretora se aproveita dos figurinos e penteados.
É em Hikari que este aspecto fica evidente.
Primeiramente ela usa um uniforme escolar, depois vem os jeans + camiseta, posteriormente ela exibe um uniforme de trabalho e por último usa roupas adquiridas de outra personagem.
Em outras palavras, ela usa uma forma peça de roupa marcante de sua amiga com o intuito de se inspirar no psicológico e se apropria de sua atitude para tomar uma ação que há tempos vinha adiando.
Da mesma forma que o figurino evidencia a passagem de tempo, ele também situa as classes sociais das personagens. Fica claro que HIkari é de uma classe inferior à Satoko (a mãe adotiva), que usa tecidos mais finos e de cores mais claras. Enquanto a adolescente usa uniformes, roupas mais acinzentadas e envelhecidas. O que nos leva a supor que ela “herda” estas peças de alguém mais velho, como sua irmã, por exemplo.
Aliás, conseguimos enxergar mudanças através da direção de arte também, a menina chega a verbalizar isso em determinada ocasião.
Tudo em seu universo muda, inclusive seu quarto onde os bichos de pelúcia não condizem mais com sua maturidade e em seguida vemos sua casa na fase adulta.
Definitivamente, é notável que houve muito planejamento e preocupação em fazer o filme dar certo e ser coerente nos aspectos visuais com a narrativa que se passa.
além das cores
Mães de Verdade muito delicado e longo, são 2h20. Mas acho que vai ao encontro da proposta do filme que traz diferentes olhares para uma mesma condição.
Sendo assim, temos o lado do jovem casal de classe média que não pode ter filhos, a mãe biológica adolescente que não queria entregar seu filho mas também não tem como cria-lo.
Existe uma terceira pessoa, que é a da dona da agencia de adoção e seus motivos para ter o negócio.
Nesse sentido, são diversas histórias de pessoas fragmentadas que se conectam através de uma criança. Então, pra mim, foi muito difícil tomar lados aqui, pois da forma apresentada, cada um tem seus motivos e suas experiências pessoais que justificam suas ações e reações.
A parte da mãe adolescente é particularmente comovente e a história se concentra mais nela.
Hikari lida com diversos fatores que poderiam ser uma incrível combinação para uma tragédia. Ela tem os desafios do primeiro amor, uma gravidez precoce, a adoção indesejada de seu filho.
Além disso, os laços de amizade não se fortalecem e seu próprio amadurecimento é uma adversidade. É uma jornada pra lá de turbulenta e retratada de forma belíssima por Kawase.
Vale a pena assistir?
Mães de Verdade foi indicado a melhor filme no Festival de Chicago e no Festival de San Sebastian, ambos em 2020.
Em resumo, eu, que não costumo gostar muito de histórias familiares, me encantei com essas mães de verdade e suas vidas doídas.
Mal posso esperar pela seleção de filmes da mostra de cinema de SP!
Estou bem ansiosa.
Fiquem de olho no site da Mostra para saber quando o filme irá ao ar.
Filmes relacionados
Se você gosta do tema de adoção, assista “A Luz Entre Oceanos“. Michael Fassbender e Alicia Vikander estão em grandes atuações para contar esse drama extremamente delicado.
Mas se você quer falar de adoção de uma forma mais assustadora pra aproveitar o mês do Halloween, vai de “A Órfã“. Você não vai se decepcionar!
Agora, se for pra rir, vá de “Philomena“! O filme aborda a adoção e ainda vem com uma bela amizade de brinde, eu amei!
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