Black Mirror — USS Callister7 min read

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Isso é um sonho… tem que ser!


Nanette
  • Título original: USS Callister – Ep 1 – Season 4
  • Data de lançamento: 29 de Dezembro de 2017
  • Diretor: Toby Haynes
  • Diretor de Fotografia: Stephan Pehrsson
  • Elenco: Jesse Plemons, Cristin Milioti, Jimmi Simpson
  • Sinopse: O capitão Daly comanda sua nave espacial com coragem e sabedoria. Mas uma nova recruta está prestes a descobrir que as coisas não são exatamente o que parecem.

Já faz algum tempo que a Netflix comprou os direitos de Black Mirror, que antes era uma série da BBC. Do meu ponto de vista, a gigante do streaming não soube manter o nível das temporadas anteriores e mais tem feito episódios bonitos esteticamente do que com conteúdo relevante.

Pegamos por exemplo o episódio que faturou o Emmy de Melhor roteiro para série limitada, filme para TV ou especial de drama na última segunda-feira: USS Callister. Este foi muito debatido desde sua estreia pois traz opiniões sobre cultura “nerd”, jogos, e como as mulheres são tratadas em ambientes de trabalho relacionados a tecnologia. Entretanto, o que realmente brilha é o admirável trabalho realizado pelo diretor de fotografia Stephan Pehrsson — graças ao uso de cores e iluminação — ao nos estabelecer em dois universos de configurações totalmente diferentes, uma realidade simulada em forma de jogo e a realidade em que vivemos.

Imagem em formato 4:3 e tons em lo-fi para nos remeter os seriados antigos

Inicialmente somos apresentados a nave USS Callister mas sem saber o que ela é, o que temos de informação é que tudo tem a ver com os anos 60 e 70: imagem cortada em 4:3, muita cor forte, uma óbvia referência a Star Trek e um final feliz com direito a beijo clássico.
Posteriormente, vamos descobrindo quem são aquelas pessoas da nave, onde Nanette (interpretada por Cristin Milioti) trabalha para seu chefe Robert Daly (Jesse Plemons) em Callister Inc., a empresa por trás do jogo Infinity.

A realidade tem um aspecto mais sinistro do que a realidade virtual, apesar de ser exatamente onde as coisas realmente terríveis estejam acontecendo. No mundo real, observamos que o apartamento de Daly é muito escuro, exceto pela escassa iluminação proveniente de algumas lâmpadas e das diversas telas gigantes de monitor. O escritório da Callister, Inc. é basicamente cinza, pálido, trazendo aqui a atmosfera de animosidade que existe dentro da empresa, o isolamento de Daly. A equipe de arte e produção também foi muito feliz pois o mundo em que ele vive tem que ser real. Há sim alguma modernidade em seu apartamento e no escritório, mas nada mais ou menos moderno do que qualquer outra empresa de tecnologia, ou um bom apartamento em uma cidade grande. Tudo foi criado para que o espectador veja locais plausíveis, de acordo o que seria uma empresa de jogos virtuais.

Diante de um segundo olhar da realidade virtual, agora já cientes de quem é quem, observamos o visual clássico dos anos 60 presente nos cabelos, maquiagem e figurino dos tripulantes. Nota-se a constante presença de roxo e laranja, que são cores opostas. Enquanto o laranja tem temperatura quente e faz as honrarias da inovação, da coragem empurrando os participantes à resiliência e evidenciando o destemido Daly; o roxo que é frio vem para lembrar da autoridade do líder, da sua antipatia e de seus castigos. O acorde de cores aqui é bem empregado e nos traz uma atmosfera de tensão e mistério.

Essas sensações são ampliadas e pela câmera estática e em ângulo holandês, que é essa visão de lado e inclinada que observamos na foto acima. Aqui temos a direção de fotografia exercendo sua função máxima na narrativa com closes intensos em momento de tensão e os ângulos bem explorados.

O protagonismo de Daly é acentuado a partir das luzes que são bem mais brilhantes em cima dele e no enquadramento ao centro do plano.

Inicialmente temos a impressão de que Nanette iria provocar uma redenção em Daly quando mostra admiração por suas habilidades de programação. Entretanto, a iniciativa é sabotada pelos colegas que a advertem sobre suas tendências obsessivas.
A partir de certo ponto do episódio temos uma mudança de personagem principal que é quando Nanette adentra o jogo e, inconformada com a possibilidade de estar presa, senta-se na cadeira de líder da equipe para iniciar um plano de fuga. Ela vem para ser o elemento de desequilíbrio.
Notamos ainda uma progressão do estilo clássico dos anos 60 para a sensação de um filme de aventura. O diretor de fotografia, Pehrsson, declarou sua inspiração no “Star Trek” do diretor J.J Abrams para tal transição e declarou:

Essa seção teve que parecer tão fluida quanto qualquer tipo de versão moderna de Hollywood de ‘Star Trek’.

Aos poucos vamos percebendo que não há nada de divertido nessa nave, ao contrário do exposto no início do episódio e que a nave digital nada mais é do que uma paródia bem bizarra de Star Trek. 🖖

Eu não sei se pagaria um ingresso caro se caso fosse um filme para cinema, mas pagaria por uma sessão Mastercard Surpreenda no Cinemark. Pra mim, é o que vale.
Conta aqui embaixo nos comentários o que você achou desse episódio e o que achou dessa temporada de Black Mirror!

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