Antes de mais nada, que atire a primeira pedra quem não tem uma influencer de estimação! Todos nós, no mundo atual, seguimos fielmente uma dessas pessoas.
Suor, filme disponível na Mostra Internacional de Cinema de SP, traz uma abordagem humana da rotina de uma influenciadora digital.
Sylwia atua num nicho que tá pra lá de desgastado e que desperta a desconfiança de muitos nos dias do hoje: o fitness. Desde já, assumo que gostei muito da forma com que o diretor Magnus van Horn mostra isso pra gente.
Cores e Fotografia
Primeiramente, nas cenas iniciais já somos impactados pela cor escolhida pra apresentar a protagonista, Sylwia. Ela usa vermelho e assim, fica quase impossível desviar nosso olhar. Nesse sentido, ficamos centralizados em sua presença e observamos um alto contraste da sua pele clara, seus cabelos loiros e o vermelho intenso de sua roupa.
Simultaneamente, identificamos o uso de closes em excesso, que, ao mesmo tempo que nos incomoda pelo fato da camera ser um tanto quanto inquieta, mas também nos hipnotiza eu seus belos olhos azuis. Assim, a proximidade também nos faz examinar minuciosamente seus poros, o viço de sua pele, o suor escorrendo e quase sentimos seu cheiro. Eu tenho certeza que ela é cheirosa! Huahuahuahuhauhauhau
Embora ela use cores derivadas do vermelho, que poderia nos trazer uma ideia de visceralidade, de força e potência, nos deparamos com uma protagonista frágil, solitária, melancólica e extremamente carente.
Isto fica marcado, por exemplo, numa cena onde ela encontra uma amiga no shopping e eu poderia jurar que elas não se conheciam. Ela não demonstra emoções, não sabe como demonstrar comoção com o problema alheio. Uma vez que falta empatia com uma pessoa conhecida, sobra com desconhecidos através das telas. Como explicar esse fenômeno? Você saberia dizer? Por enquanto, ainda estou digerindo todas as camadas de Suor.
Silwya aparece também vestindo rosa, nos permitindo supor que é sua cor de segurança. Ela veste quando está dando seus treinamentos, justamente nos momentos onde ela mais se sente confortável, onde é seu campo de atuação: em frente às câmeras. Aí sim se faz presente a força do vermelho + a clareza do branco.
Por outro lado, em dado momento, la usa um branco puro, num vestido escandalosamente lindo. Ela vai à numa balada e esse look vai servir de contraste pra um dos momentos mais tensos do filme.
Sylwia atrai olhares e sua beleza fica radiante, cheia de riqueza.
além das cores
Gostei muito da atuação da atriz principal, Magdalena Kolesnik, que é muito talentosa. Ela nos conduz bem na jornada de sentimentos de sua personagem, traz quando precisa e deixa a gente sem reação em outros momentos.
Sylwia Zajac é uma pessoa como eu, você ou qualquer outro ser humano comum, mas diante das câmeras implacáveis dos celulares, ela vira o que alguns chamam de subcelebridade. Esses mesmos celulares que são comandados por nós e que, embora saibamos do poder que nosso clique tem, não o valorizamos. E assim, seguimos a cada dia subestimando nossas vidas e supervalorizando a dessas pessoas, sem conhecê-las de verdade, tanto física quanto intimamente.
Como vocês puderam perceber no parágrafo anterior, o filme traz sim muitas reflexões e vai jogando isso pra gente de forma sutil, com olhares da protagonista, com acontecimentos triviais e corriqueiros.
A relação mãe e filha
A propósito, por falar em olhar, o de Sylwia lembra muito o de Alexey de “Sem Amor”.
A medida que o tempo transcorre, percebemos que seus sentimentos são iguais: solidão e falta de amor. Eles se fundem numa sociedade de desamor, onde não sabem conversar, não sabem lidar com emoções.
Só para ilustrar, fica emblemático quando num almoço de família sua mãe se preocupe mais com o cachorro do que com a revista cuja capa sua filha acaba de estrelar. Já tinha uma semana do lançamento e sua mãe não tinha comprado.
Por outro lado, quando Sylwia resolve se abrir e diz: “me desculpe, eu te amo”.
A mãe responde: tá certo, não tem problema”.
A direção de arte faz seu trabalho muito bem, montando ambientes claros, iluminados e minúsculos que nos deixam com sensação de angustia e claustrofobia. A casa da mãe de Sylwia é especialmente apertada e me deixou bem desconfortável aqui no sofá, tudo que eu mais queria era que ela fosse embora de lá.
O Cachorro
Palmas pro Jackson, um Jack Russell que acompanha a moça por todos os lugares possíveis. Ele serve como instrumento de metáfora: o melhor amigo do homem está com ela a todo instante, mas nunca vemos ela fazendo um carinho no pet.
Sem dúvida é algo curioso, não?!
Aliás, esse cachorro é submetido aos mais diversos adventos constrangedores, como o assédio que Sylwia sofre, por exemplo.
Filmes Relacionados
Como eu citei aqui, recomendo “Sem Amor”, em cartaz no Telecine, pra você que quer um drama sobre solidão.
Porém, se você que quer ver mais sobre a influência das redes sociais na rotina de alguém, recomendo “O Circulo”. Mas assista com cautela pois não é um filme que eu, de fato, goste. Ele tem uma ideia boa, mas execução duvidosa. Um Tom Hanks bem canastrão…
Pra ver como adolescentes lidam com uma questão de solidão + redes sociais, assista “Oitava Série”. Em cartaz na HBO, o filme é bem realista sobre a vida dos jovens atuais e tem opinião dele aqui no site.
Em resumo, recomendo que vocês assistam Suor e deixo aqui o link pra você adquirir seu ingresso lá na Mostra Play. Vale muito a pena!
Muito obrigada por sua leitura, espero que tenham gostado!
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EDIT: Este post foi ao ar pela primeira vez em 23/outubro/2020 em razão da Mostra Internacional de Cinema de SP.