Inteligência. Nada causou mais problemas à humanidade do que a inteligência.
Stella
- Título original: Rear Window
- Data de lançamento: 1 de agosto de 1954
- Diretor: Alfred Hitchcock
- Diretor de Fotografia: Robert Burks
- Elenco: James Stewart, Grace Kelly, Wendell Corey
- Sinopse: Em Greenwich Village, Nova York, L.B. Jeffries, um fotógrafo profissional, está confinado em seu apartamento por ter quebrado a perna enquanto trabalhava. Como não tem muitas opções de lazer, vasculha a vida dos seus vizinhos com um binóculo, quando vê alguns acontecimentos que o fazem suspeitar que um assassinato foi cometido.
Essencialmente, Janela Indiscreta é um filme sobre o voyeurismo. Tanto nós quanto o personagem protagonista interpretado por James Stuart somos observadores da janela alheia, bisbilhotando o que, teoricamente, não é da nossa conta. Hitchcock nos coloca como voyeurs em duas ocasiões: como espectadores do filme e nos projeta pra dentro da telona junto com Jeff, uma vez que a câmera está subjetiva em boa parte do tempo, olhamos a casa dos vizinhos a partir da perspectiva dele, por trás de sua câmera.
Há 3 elementos básicos que compõem o sucesso deste filme: a cenografia, a direção de fotografia e a edição.
Janelas, geralmente, nos dão impressão de liberdade, mas aqui elas simbolizam vidas privadas, estamos confinados naquele apartamento e este é o grande argumento para o suspense da trama. A cena inicial é a partir de um travelling e é assim que somos apresentados a vizinhança, com a câmera passeando pelo prédio, pausadamente e mostrando cada uma daquelas casas que serão objetos do olhar e observação. Posteriormente esta mesma câmera entra janela adentro pela casa de Jeff e vemos tudo ali dentro, a temperatura ambiente, sua profissão e o porque ele está machucado. Hitchcock é muito habilidoso em falar com imagens, passar ao espectador tudo que é necessário sem usar um diálogo inócuo e/ou cafona.
O movimento de câmera é algo bem peculiar: como estaríamos observando o prédio a nossa frente? É uma precisa simulação de movimentos da nossa cabeça que, Hitchcock e seu fiel diretor de fotografia, Robert Burks, empregam nessa obra para que seu espectador esteja totalmente envolvido e imerso na trama.
Um outro aspecto muito bem desenvolvido foram os tamanhos de tomada apresentados, pois nesse caso, é um quesito que importa! Sempre que a câmera fecha em close, seja numa mulher se despindo ou um homem (aparentemente) cometendo um assassinato, o diretor quer que o espectador preste atenção no que está em foco. Aqui entra uma técnica que surgiu por volta dos anos 20 chamada efeito Kuleshov e que dá magnitude a mais um elemento importante em Janela Indiscreta, sua edição: assinada por George Tomasini, outro parceiro de diversos trabalhos de Hitchcock, a montagem do filme nos sugere (ou manipula) o tempo todo ao que devemos estar atentos.
Janela Indiscreta foi lançado em 1954 e os figurinos de Kelly refletem a vestimenta das mulheres àquela época e podemos separar em três fases: vestidos, casual e alfaiataria. Assinados por Edith Head, os figurinos da deusa Grace Kelly são um show a parte e acho que realmente merece destaque: notem que enquanto ela não entende / não acredita que possa de fato ter ocorrido um crime naquele prédio suas vestes são essencialmente pretas.
Quando ela passa a acreditar, temos um figurino branco e a partir deste momento também, temos uma Lisa mais ativa e com mais atitude.
O terninho verde, apesar de não ser um dos looks mais sofisticados usados no filme, tem seus pontos positivos e um deles é destacar a complexa personalidade de Lisa: seu lado profissional e feminilidade. Não à toa, o modelo possui costas nuas, que traz um elemento de sensualidade.
Como influência de forma e estilo à essa indumentária, podemos citar Cristóbal Balenciaga, levando-se em consideração os ombros arredondados do blazer, além de Charles Creed, com o colar de perolas curto e agarrado ao pescoço, que foram 2 designers bem populares naquela época.
A cor verde foi uma escolha de Hitchcock e mais tarde, em “Os Pássaros” vemos Tippi Hedren usar algo semelhante.
O verde é frequentemente associado à natureza, mas o que poucos sabem é que como consequência disso, também podemos identificá-lo ao sentimento de harmonia consigo próprio e com o que está a sua volta. A cor é também ligada às pessoas ativas, que têm uma vida pública agitada, além de serem gentis, atenciosas e terem bons corações. Acho que podemos associar esta descrição ao personagem interpretado por Grace Kelly, certo?!
A análise acima é apenas uma das muitas perspectivas que podemos encontrar em Janela Indiscreta. Considero uma das melhores obras de Hitchcock justamente por sua grandiosidade de interpretações e leituras além de ter uma temática contemporânea, a frente do tempo em que foi criada. A direção de fotografia de Robert Burks é um ponto marcante, do meu ponto de vista, para o êxito de aceitação do filme. É ainda mais inteligente do que vimos em Festim Diabólico, pois atravessamos diversos dias e noites e temos essa realidade através do uso da iluminação bem precisa, além do já mencionado emprego do efeito Kuleshov.
Grace Kelly e James Stuart também estão muito bem e são convincentes em seus papéis, ele como um sujeito machão, incrédulo dos relacionamentos e ela como uma profissional de moda, aparentemente fútil e que esconde uma tremenda coragem.
E vocês, já assistiram? Qual é sua interpretação de Janela Indiscreta?